sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Clube da Luta

Somos uma geração de homens criados por mulheres
Crescemos assim, rodeado de mães, criados pela TV
Vimos o mundo passar diante de nosso olhos
Não temos nenhum peso na história, uns dizem,
Sem guerras, sem crises, sem cultura própria
Nossa guerra é espiritual
Nossa crise é nossa própria vida
Viemos ao mundo e ele já estava pronto
E a pergunta fatal se lança no ar
Será que a resposta é mesmo outra mulher?

A pergunta já traz a resposta
Eis o nosso peso na história: estamos lutando contra Adão e Eva
Pela primeira vez estamos com a responsabilidade em nossas mãos
Responsáveis pela nossa serpente, pelo nosso paraíso, pelo nosso inferno.
Pela primeira vez uma geração de homens nasceu livre pra decidir
Se a resposta é realmente outra mulher
Se a solução é termos mães até o fim da vida.

Talvez precisemos delas. Um dia.
Mas por enquanto, precisamos de nós mesmos
Lavar a própria privada
Passar a própria camisa
Fazer a própria comida
Morar na própria - e de mais ninguém - casa.

Esse mundo não tem mais lugar para estrelas de rock, mega atores de cinema, cowboys valentões
Também não tem espaço para fadas, bonecas, príncipes e rainhas.
Também não tem espaço para deus

O perdão não salva - a mudança sim
A luz não vem do céu - a luz somos nós
A desgraça não vem do inferno - desgraça é a nossa cabeça mimada.
O paraíso está para ser construído
E nenhuma ajuda virá de cima.

E nunca teremos espaço se não saírmos do útero e virarmos História.

Constatação Ligeira

Quanto mais cedo alguém quiser se livrar do medo e da culpa, mais cedo deve se livrar do catolicismo.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Guia Rio De Janeiro para Turistas

"De frente pro mar/mas de costas pra favela/[...]/É bom ficar com um olho no padre/E outro na missa" - Marcelo D2 e BNegão.

RIO DE JANEIRO: uma cidade sempre cercada de muita propaganda. E propaganda - cês sabem como é foda - faz nego acreditar em qualquer merda. Tem gente que ama, chama de CIDADE MARAVILHOSA bota na parede e chama de lagartixa e talz. Tem gente que odeia, chama de favelão e o escambau mas não resiste a um podrão, compra CD pirata e rebola funk. No meio desse debate bipolar, minha missão aqui é desmitificar pra vocês esse lindo balneário no qual tive a sorte - ou o azar, isso vive mudando - de nascer.

I) CLIMA
Essa cidade só tem duas estações: verão (que dura o ano inteiro, com temperaturas acima de 30º) e o inverno (que só trabalha quando o verão tira feriado e tem temperaturas abaixo de 30º). Existem lendas sobre temperaturas abaixo de 20º, mas isso é provavelmente mentira, já que carioca nenhum sobrevive num frio desses.
As excessões são Bangu e o SAARA (ambos de clima saárico) e o Alto da Boa Vista, que vive frio e úmido.
NOTA:

II) CUSTO DE VIDA
Apenas recomendo não alugar apartamentos, comer onde tenha fila nem comparar com outra cidade, sob risco de suicídio. E ficar de olho nos taxímetros, só pra garantir.
NOTA:

III) MULHERES
Há mulheres de todas as cores, todas as idades e opções não faltam. Mas só porque Garota de Ipanema é a música mais tocada no mundo,
i) as lindas se fazem de difícieis
ii) as feias acham que são lindas.
NOTA:

IV) GASTRONOMIA
Se você for rico e estiver procurando alta gastronomia, consegue se virar bem. Se você estiver procurando restaurantes descolados, vai encontrar um monte e vai pagar mais ainda. Se você for pobre (e pedreiro) como eu, come-se dignamente por R$6,00 (em média) PFs maravilhosos em qualquer boteco da cidade. O lanche de rua (vulgo PODRÃO) só pode ser degustado por quem tem estômago de titânio. Existe também a tradição do "PASSATEMPO DA SUA VIAGEM", bala/chiclete/amendoimsemcasca/paçoca/jujuba/biscoito, que nas lojas do gênero custam cinquenta reais mas você pode comprar por APENAS UM REAL em qualquer ônibus da cidade.
NOTA:

V) TURISMO
Como o Rio é uma cidade muito hypada, os pontos turísticos são caros pra dedéu e só servem pra turista ver mesmo. Se o seu lance não é se sentir numa novela do Manoel Carlos, é melhor mesmo é ficar em hostel em Santa Tereza, curtir o Centro e aproveitar cultura de verdade. Ou ir pro subúrbio ver um pagode legal, passar o dia num barracão de escola de samba. Mas tem que conhecer alguém da cidade, que é pra ficar ligado.
NOTA:

VI) TRANSPORTE COLETIVO
Relaxa, vai demorar. E você provavelmente vai precisar pegar uns dois ou três.
NOTA:

VII) FUTEBOL
A única coisa que efetivamente funciona na cidade. Temos Fluminense, Botafogo, Vasco e Flamengo e outros times cult (ou seja, pobres e simpático), como Bangu, América e Olaria. Como o Maracanã está em obras, nos resta o São Januário do Vasco (longe e cercado de favela) e o recém-inaugurado Engenhão do Botafogo (mais longe ainda e cercado por outras favelas). Estranhamente, Fluminense e Flamengo não têm estádios próprios mas o Olaria tem.
NOTA:

VIII) SOTAQUE

Carioca mesmo fala meio arrastado, meio boca mole, chiando o S e botando vogal onde não existe. Só os paulistas se incomodam, e carioca mesmo também odeia ouvir paulista. Apesar de ser infestada por gente de fora, ainda se considera nordestino engraçado e indecifrável e o sotaque do sul sexy pra caralho.
NOTA:

IX) JOVENS
Tudo retardado.
NOTA:

X) CONSIDERAÇÕES FINAIS
É uma cidade muito doida, quase esquisofrênica, mas eu gosto dela mesmo assim. Por ter muita coisa junta no mesmo lugar, tem que procurar direito o que se quer. Dá pra ir do céu ao inferno (e vice-versa) num minuto e por isso tem que ficar ligado. Mas sem neura. Esqueça tudo que você já viu nas novelas e nos noticiários e seja feliz.
NOTA FINAL:

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Bom Conselho

Vencer na vida é impossível, broder
Porque pra vencer a vida, tem que se vencer a morte também
E a morte sempre vence, irmão
Foda-se o seu empreguinho
A sua casa
A sua família
Isso até te faria feliz se não fosse uma auto afirmação
"eu venci na vida"
Isso só prova o quão merda é você

Vencer a morte é impossível, broder
Mas a gente pode sacaneá-la
Mas não com a mesma moeda
Com a qual ela teima em nos sacanear
Só uma coisa é tão forte quanto a morte
O amor
Só o amor constrói
Só o amor faz a vida ser forte

Vencer na vida é impossível
Porque pra vencer a vida, tem que se vencer a morte
Mas nenhuma das duas é feita pra se vencer

Ame
Simplesmente

Você morre do mesmo jeito, paciência
Mas a vida te presenteará sempre
E a morte te considerará como broder
(Fazendo um fair play danado)
Te levará embora só por obrigação
Chorando baixinho, contrariada
Reconhecendo sua grandeza perante a maior de todas

terça-feira, 12 de julho de 2011

Canja

A madrugada é a hora mais propícia para a poesia ruim
Sabe, silêncio, solidão, escuridão, alcoolismo, enfim
Ruim que sou quase me atrevo ao metafísico
Mas deixar de comer me deixa meio tísico

Esquentei uma canja

Na TV passa um rock progressivo, todo colorido
Psicodélico, jazzístico, quase meu preferido
Lá vem o transcedentalismo horroroso germinando
Acender uma vela e olhar fixo a chama queimando

Lavei a louça, perdi a vontade de transcedentalizar
Acordar, e ver a louça de ontem na pia é uma merda.
Nada nesse mundo vai me impedir de acordar e ver uma pia limpa
Pronta para um novo dia.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Ufologia

Essa geração nunca irá apreciar um disco voador
(Pelo menos, não um moderno, lançado há pouco no espaço)
Pudera, não conseguem construir uma vitrola voadora
iPhode

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O Assalto

Quinta feira e noite e caminhava numa puta calçada deserta. Esse tipo de calçada dura iluminada pelo poste, luz amarela e fantasmagórica e refletida fracamente no asfalto preto e deixando tudo meio hepatite. Foda morar na cidade. Tinha a certeza que seria assaltado, violentado moralmente, talvez fisicamente, e não teria como processar ninguém. Temeu pelo corpo, não poderia se aleijar ou não iria mais poder trabalhar, e sem o seu trabalho um homem não tem sua honra e sem a sua honra se morre, se mata.

Seja o que Deus quiser.

Tinha a certeza que ia se fuder de algum jeito àquela noite. Até onde conseguia lembrar, puxou uma terça-feira recente e um domingo de carnaval distante, ambos anoitecidos e desertos mas sem acontecimentos trágicos. Tinha a certeza que ia se fuder, certeza divina, o três sempre tem essa coisa meio cabalística e hollywoodiana de plenitude - três patetas, três tenores, santíssima trindade, três homens socorrendo terezinha de jesus, meninas superpoderosas - e, como tivera duas andanças madrugadas bem-sucedidas, a terceira certamente seria ruim. Nessas três andanças, iria viver a história da humanidade e sintetizar a vida, fazendo valer a regra não há o bem sem o mal, toda nudez será castigada, Samba de Amor e Ódio, cavaleiros do zodíaco contra as forças maléficas.

Viu que estava confundindo realismo com pessimismo, pensou nos Quatro Crioulos. Eram plenos sem ser três. Cantarolou que mandou fazer um terno, só pra chatear, com a gola amarela. Começava a se sentir parte daquela rua, mesmo que ande no vale da morte, nada temerei pois sou tão filho da puta quanto qualquer filho da puta da porra do vale. Mandou bordar na lapela o nome que não era o dela, só-pra-cha-te-ar.

Mal chegou na outra estrofe e foi assaltado, arma na barriga e tudo. Temeu por qualquer coisinha, celular com os contatos todos, documento, roupa, o filho da puta conseguir fugir impune, fumar crack de bobeira, porra os quatro crioulos não vadeavam de bobeira, samba é coisa séria! malditas escolas de sambas e seus desfiles espetaculosos, diretoria de merda que ordena ritmista da velha guarda varrer o chão pra não tocar porque o filho do presidente de honra agora manda nos ensaios Porra, tô sendo assaltado mesmo caralho vai dar trabalho tirar outra identidade e se o filho da puta se passar por mim? vou andar pelado na rua se ele cismar com a minha roupa vai dar trabalho anotar os telefones todos de novo e essa arma na barriga já está irritando porra malandro hoje em dia não tem classe nenhuma sai logo pilhando tudo na agressividade ignorância, o-olha cara o celular já foi roubado ontem - mentira, estava escondido - desculpa aê.

Perdeu vinte e três reais.

Pelo menos saiu com seu apego material reajustado, crescido, turbinado, lhe caiu como uma luva. Porque, num assalto, ninguém teme pela vida, e sim pelo que conquistou e pode perder pra um qualquer. Pois, se pode perder, de nada valeram as conquistas. E se nada valeram as conquistas, a vida vale nada no final das contas. Deve ser por isso que os bandidos dominam o mundo, saem destruindo tudo o que construímos.

Perto dali, num copo de capirinha bebido e abandonado, uma larva decompositora assistiu a tudo e comentou com suas colegas de trabalho. Se larvas fossem como os homens e sentissem ganância, teriam começado a dominar o mundo naquele exato momento. Seria uma bela lição.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Macacos me mordam!

Amore
(é)
more
ore-







Com essa toga e essa tiara você nunca me enganou, Virgílio.
Você e Grande Otelo tocavam o terror nos bailes do Estácio.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Teste ergométrico

Minha musa inspiradora morreu
Ai de mim!
Porque eu nunca deixava ela expirar
E agora como as pessoas ouvirão meus suspiros?

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Sem métrica

Um marimbondo solitário zunzuna no meu quintal há uns dias
Somente só ele ali voando
Indo da Espada de São Jorge até o Pau d'água
Indo do Pau d'água até a Espada de São Jorge

Às vezes eu tenho isso de querer ser poeta
Mas hoje o marimbondo não me representa
A Espada não é metáfora de nada
O Pau d'água está na água, mas é coincidência. Nem fui eu que pus ele lá

Não há motivo pra enfeitar a realidade
Não há motivo pra louvar asas de insetos
Enfim, nenhum motivo pra poesia

O marimbondo não é poeta da natureza
O evento não é nenhum sinal divino
Mas por Deus! esse inseto me deu a maior aula de poesia da vida!

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Anatomia

Minha poesia é pele, minha arte é pêlo. Não é osso, nem é carne, nem sangue - meu sangue é fogo. Portanto, sou sangue, pele e pêlo, por enquanto. Não sei ainda o que faz minha carne nem sei que coisa faz meu osso.

Se minha arte fosse osso e minha poesia carne eu não viveria. A poesia é uma loucura que só aceitamos porque escolhemos, pois escolhemos aceitar nada. Arte é bomba de napalm, que sai queimando pêlo, pele e o que mais estiver na platéia.

Se viesse de dentro, fosse carne ou osso, tudo quanto é artista morria, não mereceria a imortalidade da arte. Se bem que uns já morrem assim, moribundos em cena.